De prima

Mais um relato de nossos leitores sobre a força de futebol e família. Quem nos conta sua história é Angelus Bravin "Fala galera do Sem firula, beleza? Aqui vai um pequeno relato da força da ligação entre família e futebol. Nasci em uma família majoritariamente rubro-negra, daquelas que em 1981 estavam TODOS com o ouvido colado no rádio, mas meu pai, que veio de fora, torcia pelo time que tem a alcunha de bacalhau, o que meu tio (irmão de minha mãe), sempre sacaneava e visando a isso, minha primeira foto com ele, foi com a primeira camisa que ganhei. Bem, isso foi no início da década de 90, fui crescendo, indo ao campo do bairro aos domingos com meu pai, vendo meu tio sacanear o mesmo toda vez que se encontravam e amando cada vez mais o futebol. Um belo dia, num domingo de dia dos pais, iria ocorrer um clássico no Maracanã, Flamengo x Vasco. Eu, criança, prontamente apostei com o coroa: "Pai, se o Flamengo perder, eu viro Vasco, se o Vasco perder, você vira Flamengo", ele aceitou, o Mengão sai de campo com a vitória e desse dia em diante, não vi mais meu pai expor algo sobre o vasco, e até short do Flamengo ele comprou. Novamente os anos passam e chegamos ao ano de 2010, já velho, apaixonado pelo time, tenho a terrível notícia que meu tio fora internado, câncer no cérebro, fui visitar o mesmo no cti e uma das últimas coisas que nós conversamos foi: "O Zico tá voltando" "É, ele vai nos dar alegria de novo",(Zico voltava a gávea naquela época como diretor). Pouco tempo depois desse diálogo, veio a falecer um dos grandes pais que tive e nesse dia, eu vi meu pai chorar a primeira vez. Meu velho era muito ligado a ele. Depois desse problema, com ajuda dele, fomos voltando a rotina, até que exatamente 3 anos depois de meu tio, meu pai adoece, é internado e operado, naquele dia, fui para o hospital com a camisa retrô de 1992 para ficar com ele no quarto, passamos a noite conversando sobre tudo, fui percebendo que ele ficava confuso e ia esquecendo as coisas, mas não esquecia os jogos que vimos juntos e como estava minha mãe, após o médico chegar, constatou problemas e ele foi removido urgentemente ao CTI, sendo removido ele fala suas últimas palavras: "Cuida da sua mãe." Bem, depois de 1 mês, perdi meu pai, meu herói, o cara que quando eu saia da sala após o terceiro gol do Santos ,no fantástico 5x4 de 2011, disse: "Volta que vamos virar". Perdi meu pai enquanto disputava um campeonato de futsal em São Paulo, tinha prometido a ele a medalha de prata e eu trouxe a tempo de colocar ela no pescoço dele e ela ir para debaixo da terra com ele. Bem, eu não tinha mais nada, perdia meu pilar, estava destruído, ai veio a final da Copa do Brasil de 2013, Flamengo x Atlético- PR, e eu fui, queria estar lá, por ele, e ao ver o primeiro gol, de Hernanes, sentia meu pai comigo, ali, comemorei sozinho, e chorei, como não tinha me permitido antes. Desse dia em diante, todo segundo domingo de agosto eu vou pro campo, seja o maracanã, seja o campo de pelada que jogo, por que lá eu sei que vou bater bola com meu velho. Ah, meu pai e meu tio nasceram no mesmo dia e no mesmo ano, 2 de agosto de 1958, filhos de mães diferentes, mas que compartilham as coisas desde sempre. Hoje eu estou terminando a faculdade, e adivinha o tema da monografia? Pois é, futebol." - August 09, 2015 at 02:14PM

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