Só consegui chegar ao Morumbi perto das 9:00, quando aqueles jogadores históricos já entravam em campo. As bocas de acesso à arquibancada estavam abarrotadas de gente e minha visão se resumia à nuca da pessoa a frente. Pior, aqueles que passavam pelas entradas viravam-se para o campo ao invés de subir as escadas e dar vazão à massa (na qual eu me incluia) que desejava alcançar um lugar vazio. Isso me deixava especialmente puto: depois de toda a correria para perder o mínimo possível da festa tão aguardada, o maluco que há 30 segundos estava sofrendo como eu agora esquecia-se completamente disso e adotava a atitude egoísta de virar pra trás e aproveitar a vista que eu ainda não tinha. Custava andar até um local vazio e então observar o que acontecia em campo? No entanto, quando finalmente cheguei à escada percebi que aqueles que lá estavam não olhavam para o campo, mas para a arquibancada laranja. Como o degrau a cima continuava bloqueado, olhei de rabo de olho para o setor das organizadas e, então, fui completamente abduzido por aquela imagem. Era mágico, era lindo, era inédito. Fui transportado para outra realidade, numa sensação similar àquela que sentimos quando time e torcida se transformam numa coisa só. Quando percebi, a escada já estava livre e cerca de 50 pessoas gritavam enfurecidamente para que eu andasse. A minha racionalização e senso de coletividade não foram suficientes para evitar que eu agisse exatamente como aqueles que eu tanto critiquei. Finalmente entendi a passagem da Odisséia na qual navegantes destróem suas embarcações apenas para ouvir as sereias: o encanto é humanamente irresistível. Passadas todas as homenagens e despedidas da noite, ainda me surpreendia como a festa na arquibancada se igualava a tantas cenas e personagens especiais dentro de campo, dessas que seriam possíveis naquela noite e nunca mais. Percebi o CRIME que é a proibição de bandeiras, fogos e demais apetrechos praticada no Brasil e, em especial, em São Paulo. Reclamamos do nível técnico de nosso futebol, lamentamos que qualquer jogador mais ou menos parte pra China nos deixando apenas com as sobras e ficamos imaginando como seria o Brasileirão se todos os brasileiros jogassem por aqui como nos anos 70. Tudo isso é verdade, mas o dano causado pela castração das festas das torcidas é muito maior e muito mais cruel. Seria muito mais fácil de resolver também, se assim quisessem. Pelo fim das proibições na arquibancada, pela volta de bandeiras, fogos e afins. Pela volta da festa ao futebol! foto: Maguila Parada Inglesa / FotoTorcida


December 12, 2015 at 02:29PM

Nenhum comentário:

Postar um comentário