Tinha 12 anos quando te virei as costas. Reneguei o meu passado para te garantir um futuro seguro. Uma escolha de coração. Uma escolha de instinto. No mesmo dia em que deixei de te olhar no rosto, comecei a te amar. A te proteger. A ser o teu primeiro e último instrumento de defesa. Prometi a mim mesmo que faria de tudo para não cruzar nunca o teu olhar. Ou para fazê-lo o menos possível. Mas cada ocasião dessas foi um sofrimento, ter que me virar e perceber que tinha te decepcionado. Mais uma vez. Ainda outra vez. Sempre fomos opostos e complementares, como a Lua e o Sol. Obrigados a viver um ao lado do outro, sem podermos nos tocar. Companheiros de vida a quem é negado o contato. Há mais de 25 anos eu fiz o meu voto: jurei te proteger e te guardar. Fui teu escudo contra os inimigos. Sempre pensei no teu bem, colocando-o na frente do meu. E todas as vezes que me virei para te olhar, tentei encarar a tua expressão decepcionada de cabeça erguida, mas me sentindo conscientemente culpado. Tinha 12 anos quando voltei as costas ao gol. E continuarei a fazê-lo. Enquanto as pernas, a cabeça e o coração continuarem no comando. Tradução da carta escrita por Gianlugi Buffon após ficar 973 minutos sem tomar gol, batendo o recorde do Calccio.


March 23, 2016 at 11:23AM

Nenhum comentário:

Postar um comentário