August 14, 2014 at 03:59PM
DIONÍSIO É DA AMÉRICA DO SUL por Pedro De Luna O futebol sul-americano já sofreu e ainda sofre todos os tipos de tentativas de homicídio. Sobrevive capengando aos regulamentos esdrúxulos, aos cartolas megalomaníacos, ao lado nocivo do amadorismo, à desigualdade financeira gritante entre os clubes e os países, às arbitragens escandalosas, aos gramados escrotos, às zero punições da Conmebol etc. Mas JAMAIS uma final de Champions League teve uma festa com metade da graça daquilo que aconteceu nos 15, 30 ou 120 minutos seguintes ao apito final de Sandro Meira Ricci ontem, no Nuevo Gasometro. O estádio em chamas, pulsava em comunhão com o céu colorido pelos fogos de artifício que, depois de 106 anos, anunciavam que o San Lorenzo finalmente tinha a América no seu bolso. Edgardo Bauza, de terno, aos prantos, pulando e cantando na roda com os jogadores, que entoavam a plenos pulmões cânticos da torcida e corriam em direção a ela, a força motriz de tudo aquilo. Romagnoli, ébrio de emoção, não sabia se se despedia do clube ou se batia o pé e dizia que permaneceria pro Mundial. O obeso herói Ortigoza não conseguia dar entrevistas, apenas sorria e agradecia. Ali, o que se via eram profissionais que, por alguma razão, se dedicavam feito amadores a celebrar a história que escreveram. A graça de personagens como Schweinsteiger, Klopp, Simeone (este autenticamente) é serem "sul-americanos" infiltrados na tradicional fleugma protocolar dos europeus - que tem outras exceções. O charme da lendária torcida do Borussia Dortmund é dar um tom sudaca a espetáculos tradicionalmente marcados pela racionalidade. É ser o Dionísio, este convidado que é a festa em pessoa, no meio dos comportados Apolos. É, afinal, ser ator e não plateia. Seria ótimo se o nível técnico da Libertadores, como do futebol sul-americano como um todo, fosse melhor, como era até nem tanto tempo atrás. Mas fico muito feliz em constatar que, mesmo tentando muito, eles ainda não mataram a graça do futebol por aqui. Que não se apague nunca a chama. (* a foto é do jornal Clarín)
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