FUTEBOL: MAIS EMOÇÕES, MENOS NÚMEROS Por Samir Hauache Recebi uma pesquisa via email do Instaquerão, também conhecido como Arena Corinthians, perguntando, entre outras coisas, a minha opinião sobre a possibilidade de instalar um Spa e uma área kids no estádio. Verifiquei pra ver se não era vírus ou uma pesquisa referente a um hotel ou shopping paulistano, mas era isso mesmo, um Spa e uma área kids no estádio do Corinthians. Bom, se esse tipo de serviço é uma demanda do novo público que está começando a frequentar os estádios de futebol, eu, infelizmente, tenho que respeitar, mas os dirigentes dos clubes e administradores dos estádios também precisam respeitar a "velha" cultura e a tradição dos torcedores que sempre ali estiveram. Se o cara quer assistir ao jogo em um assento acolchoado, tomando cappuccino e comendo pipoca, ele está no direito dele, mas também precisa ter espaço para o torcedor que quer assistir o jogo em pé, ficar junto com os amigos, incentivar sua equipe e fazer festa com sinalizadores, fumaças e bandeiras. Afinal, nem todo mundo que vai ao estádio gostaria de estar em uma sala de cinema luxuosa. Do ponto de vista financeiro, o clube pode ser prejudicado se perpetuar esse modelo estritamente mercadológico, onde a relação entre o torcedor e o clube se restringe, somente, a uma relação econômica entre cliente/prestador de serviço. A lógica "ingressos caros --> mais renda --> melhora do clube" é uma meia verdade. [1] Quando um clube trabalha e faz o seu planejamento para receber somente 25 mil pessoas a um ticket médio de 80 reais e restringe a festa e a liberdade de torcer utilizando o pretexto de "garantir o conforto e a segurança", o clube até pode conseguir uma renda milionária, mas sua receita vai se limitar aquela partida apenas. Um estádio recebendo sua capacidade máxima, com ingressos a preços justos e adequados, uma torcida pulsante protagonizando uma festa com os mais variados instrumentos consegue propiciar, além de uma renda também expressiva [2], receitas futuras incalculáveis. Diversas coisas poderiam ser classificadas como receitas futuras incalculáveis: i) mais torcedores presentes nos estádios significa um aumento no consumo dos produtos do clube; ii) uma atmosfera vibrante levaria mais torcedores a criarem uma ligação emocional com seu time, que pode se transformar, também, em uma relação comercial; iii) a festa realizada em um estádio lotado poderia se transformar em milhares de clicks em vídeos no YouTube mundo a fora, ajudando a internacionalizar o nome do time; iv) aumentar o interesse de patrocinadores e das emissoras, tanto nacionais quanto internacionais em adquirir os direitos de transmissão do campeonato brasileiro; v) se diferenciar das demais "marcas no mercado", e vários outros aspectos que poderiam ser levantados caso um estudo mais aprofundado do mercado fosse realizado. Ademais, o torcedor que primeiro cria uma relação emocional com o seu clube vai ao estádio e consome os produtos mesmo nos momentos de crise, que é quando os clubes mais precisam de dinheiro entrando nos seus cofres, diferente do torcedor conhecido como "cliente" que optaria por frequentar programas de lazer (restaurante, teatro, etc), se o seu time não estivesse apresentando um bom futebol. Estou cagando regra? Possivelmente. Mas não é a diretoria corinthiana que utiliza os bordões "bando de loucos", "time do povo", "festa na favela" "maloqueiro e sofredor" e imagens das invasões no Japão e no Rio de Janeiro para se apresentar ao mundo e "vender" sua marca ? Agora, tem espaço para esse tipo de torcedor fanático e festivo, que é retratado em todas as plataformas de marketing do clube, na Arena? O favelado está indo aos jogos? O executivo pagaria 200 reais no ingresso se o estádio inteiro fosse formado por executivos sentados? Nada contra a diretoria optar por elitizar sua torcida, transformar seu estádio no Shopping JK e mudar a identidade de um clube centenário, mas não me venha depois com propaganda de ‘‘Corinthians é povão’’, ‘‘a mais Fiel’’, etc e pedindo ajuda nos (inúmeros) momentos de dificuldade. Enfim, "há estratégias pra rentabilizar uma base de torcedores sem que você expulse 80% da população da mínima possibilidade de ser frequentadora do seu estádio - mais ainda se você tem uma torcida do tamanho da do Palmeiras, por exemplo, distribuída por todo o país. Fazer planos eficazes de CRM não é uma novidade nem uma revolução. É possível ser "menos neoliberal", e ainda assim faturar alto. Sério, é possível, basta não ser preguiçoso ou ridiculamente ganancioso, como Paulo Nobre quando anunciou da noite pro dia um aumento de quase 70% nos preços dos Avantis, que já eram altos." [3] Ainda assim, "a grana no futebol deve ser a meta secundária (o meio para atingir o fim) daquilo que os burocratas e políticos interessados chamam de produto, para o esporte não perder valor emocional – tem acontecido principalmente aqui no Brasil – e, mais para frente, comercial". [4] Hoje em dia, há mais números e menos sensações plenas no mundo do futebol. Nem sempre o futebol precisa gerar o maior lucro possível. [5] ------------------------ [1] - Custo das entradas é uma das explicações para os estádios alemães estarem lotados -, clubes brasileiros desafiam a lógica e aumentam valores de ingressos com estádios vazios’ http://ift.tt/1JiU793 [2]São Paulo 3x1 Coritiba – Morumbi/SP - Público/Renda: 59.612 torcedores / R$ 1.333.055,00 Ticket Médio R$ 32 [3] DE LUNA, Pedro. [4] http://ift.tt/1COjgH7 [5] Sem Firulas (foto: Estadão Conteúdo)
July 24, 2015 at 10:13AM
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