1974 - MEMÓRIAS DE UM CORINTHIANS X PALMEIRAS Por Gracindo Caram O time do Palmeiras naquela decisão do Paulista de 1974 já era o do final da Academia. Não tinha 2 titulares em campo para o jogo final, Eurico e César Maluco, mas tinha um elenco unido, de craques, de muita experiênci, o melhor goleiro do Brasil, Leão, o maior injustiçado da história daquela época de Seleção e de Copa do Mundo, o extraordinário Ademir da Guia, e um técnico fantástico, Oswaldo Brandão, o qual, sem ninguém perceber, tramou nos bastidores, com enorme perspicácia e inteligência, como um grande general de batalha da 2ª Guerra Mundial, a transferência do local do campo de guerra - do Pacaembu para o Morumbi, explorando, a seu favor, a vaidade, soberba e ganância do inimigo. Mesmo assim, somente este grupo de pessoas comandado por Brandão acreditava em si mesmo. Nem seus diretores, nem seus torcedores e nem a imprensa nacional apostavam suas fichas neles, por mais que a lógica assim recomendasse, mas o "barulho" e a emotividade da torcida corinthiana eram tão intensos que nublaram a ótica de quem deveria ter bom senso. Pelo lado alvinegro, de mais positivo, esta vibração e empolgação da massa torcedora, confiante que seus anos de sofrimento e "castigo" tinham chegado ao final e que receberiam um grande presente de Natal. O jogo foi no dia 22 de dezembro. Na prática, o Corinthians tinha dois laterais fantásticos, até hoje considerados os melhores que já vestiram a camisa do clube: Zé Maria e Wladimir. Um beque (assim era denominado o zagueiro) tricampeão mundial, de impulsão imbatível (e exatamente como o Titanic, naquele dia, falhou em sua maior qualidade e "naufragou" diante do craque Leivinha), chamado Brito e, por fim, o melhor jogador do Brasil, na época, herdeiro da camisa 10 de Pelé, na Seleção Brasileira, Roberto Rivelino, cujo defeito ou qualidade foi o de nunca ser fanfarrão e dar depoimentos bombásticos na imprensa, dizendo que "vamos para cima Timão, vamos triturar a italianada, o Palmeiras vai virar Palmeirinhas, o gavião vai comer o periquito" e mais um monte de besteiras que levam o torcedor ao delírio e que, de acordo com as circunstâncias, pode inibir o adversário, como também mexer com seus brios e lhe dar forças. A imprensa esperava isso de Rivelino, o "provocou" para ele agir assim, mas ele não entrou nessa e, depois, tornou-se o "Cristo" daquela derrota. A 1ª vítima, o "Judas" da história, foi o goleiro argentino Carlos Buttice, sem muita repercussão na Bíblia, ou melhor, na mídia, "enforcado" pela própria diretoria, a mesma que fez a idiotice de contratá-lo no meio do campeonato, já com o 1º turno ganho e com o titular Ado em grande forma e sendo o menos vazado da competição até aquele momento. A mesma diretoria que "obrigou" o fraco técnico Sylvio Pirillo a escalar o goleiro na maioria das partidas do 2º turno para frente, com o ridículo argumento de que Ado falhava em grandes decisões (como ocorreu anos antes) e seria uma temeridade tê-lo, mais para a frente, na final do Campeonato contra o vencedor do 2º turno. Contudo, mesmo com o bode expiatório Buttice "Braço Curto" indo embora para a Argentina para nunca mais voltar, a imprensa esportiva não deu trégua e o ótimo comentarista da época, com audiência fantástica na hora do almoço, na TV Bandeirantes (canal 13), Jota Hawilla (futuro amigo da CBF e fundador da Traffic), comandou uma onda de impropérios contra Riva, o "sapo do Parque São Jorge" e o Reizinho do Parque virou o "Ruinzinho do Parque" e foi vendido ao Fluminense, nos primeiros dias de 1975. No âmbito familiar, meu saudoso e corinthianíssimo pai, que tinha acabado de completar 39 anos de idade e que escutou o jogo comigo pelo rádio (não existia mais ingresso para comprarmos e até tentamos), numa época que jogos AO VIVO, pela TV, eram só os de Copa do Mundo ou finais de campeonato fora da cidade em que o jogo estivesse sendo realizado, ficou extremamente chateado e após o jogo, não quis, pela 1ª e única vez em sua vida, sentar-se à mesa para jantar com a família e trancou-se no quarto. Depois que saiu estava com os olhos inchados e vermelhos. Obviamente, meu velho chorou, chorou muito, como nunca vimos antes ou depois ele fazer. Aquele jovem cheio de saúde, alegria e energia, pai de 3 crianças - sou o mais velho, viveu mais 14 meses e meio, até a noite da estréia do zagueiro-xerife Moisés, num amistoso noturno, contra seu ex-time, o Vasco da Gama, no Morumbi. Foi 2x0 para o Vasco. Meu pai xingou demais os jogadores e a diretoria, colocou para fora toda sua ira dos últimos meses, desde a derrota para o grande rival Palmeiras. Em seguida passou mal, culminando num ataque cardíaco fulminante e fatal para um homem de 40 anos. Morreu com muito amor e muita raiva, ao mesmo tempo, pelo Sport Club Corinthians Paulista.



April 15, 2015 at 01:34PM

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