O RED BULL BRASIL MUDOU DE NOME E ESCUDO NA TVG. E PODE ESQUECER: O CÍRCULO VICIOSO NÃO VAI ACABAR - Por Giovane Martinelli do Esporte Fino. Sempre fui muito fã de Fórmula 1. Acordava cedo aos domingos para acompanhar as corridas e torcer por um dos maiores pilotos de todos os tempos, um brasileiro chamado Nelson Piquet (vocês acharam que estava falando do Senna, não é?). Piquet tinha aquele jeito autêntico e meio maluco que, na minha imaginação, todos os pilotos deveriam ter. Depois do tricampeonato mundial, Nelson foi correr na equipe que tinha os carros mais bonitos do grid, a Benetton. Logo, a equipe virou a preferida de muitos brasileiros. Após a passagem de Piquet, a equipe ganhou ainda mais fama com dois títulos mundiais conquistados pelo então jovem e promissor alemão Michael Schumacher. Se a Benetton estivesse hoje, você a conheceria como BFL, de Benetton Formula Ltda. Em algum momento nos últimos 20 anos, não sei exatamente quando, um executivo da emissora que manda no esporte brasileiro, a TVG, decidiu que eles não falariam nomes de marcas que patrocinam ou são proprietárias de equipes esportivas, em qualquer modalidade. Neste domingo, o Red Bull Brasil enfrentou o Palmeiras no Allianz Parque, mas para o STV, canal pago da TVG, o jogo foi entre RB Brasil-SP e Palmeiras, disputado na Arena Palmeiras. Para piorar, o escudo do time de Campinas foi alterado, as letras que formavam seu nome foram apagadas. Red Bull é uma marca, como Corinthians também é. “Ah, o Corinthians não vende produto”. Opa, se vende. E vende mais que a Red Bull. A TVG optou pelo círculo vicioso. Não fala o nome das marcas, tenta ao máximo minimizar a exposição e “mostra” para as empresas que vale mais a pena comprar cota de mídia do que patrocinar qualquer coisa. Por consequência, os clubes têm menos alternativas para conseguir receita e ficam ainda mais dependentes da cota de televisão, paga pela TVG. A roda gira, mas no sentido inverso, sentido da mediocridade. Do ponto de vista comercial, faz todo o sentido para a emissora, que vira e mexe tem de lidar com a concorrência de outros veículos na compra das cotas. Essa é a estratégia mais segura. Nessas duas últimas décadas a sociedade passou por mudanças radicais, e todos os setores foram atingidos. O mercado de mídia ganhou novas palavras, como merchandising e product placement. Os patrocínios vieram acompanhados de planilhas com retorno de mídia e impactos. Surgiu o naming rights. E a TVG considerou que ela deveria ser paga para citar as marcas envolvidas nos eventos que transmitia. Nenhum clube comprou a briga porque, atualmente, não faz muito sentido. Em nenhum país do mundo uma emissora tem tanto domínio da audiência e da receita publicitária quanto a TVG no Brasil. Com o crescimento cada vez mais acelerado da TV por assinatura, da internet e dos canais verticais no YouTube, por exemplo, além do desenvolvimento de novas mídias, esse poder deve diminuir em breve. Por esse motivo, a TVG poderia optar pelo círculo virtuoso. O caminho é simples: fala o nome e dá exposição para as marcas, as empresas cada vez mais vão investir no esporte, as equipes terão mais dinheiro (e com lei de responsabilidade fiscal para acompanhar) e o produto ficará melhor, gerando mais audiência que, por sua vez, irá gerar um valor maior da cota de mídia. A roda gira pra frente. Várias emissoras produzem novelas. As de maior audiência são da TVG porque são as melhores. Eles são bons no que fazem, muito bons. Deveriam respeitar, mas não temer a concorrência. Mas acho difícil aquele executivo, que lá atrás tomou a decisão de não citar as marcas, mudar de opinião e correr o risco de fazer a roda girar no sentido correto. A solução passa, obrigatoriamente, pelo organizador do evento. Há dois anos, a FIA exigiu da TVG que o narrador GB e o comentarista RL falassem o nome da Red Bull Racing, não apenas “RBR” durante as corridas de Fórmula 1. E assim foi feito. Aí vem outro problema. No Brasil, quem organiza quase todos os eventos é a TVG. Escolhe dia, horário, regulamento etc. Quem quer mudança pode tirar o cavalinho da Ferrari da chuva. * Giovane Martineli é jornalista com MBA em gestão e marketing esportivo. Trabalhou dois anos na TVG como repórter do GE.com e foi responsável pela área de comunicação do Red Bull Brasil de 2008 a 2013.



January 27, 2015 at 04:05PM

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